Sem perceber, usamos em nosso dia-a-dia um serie de expressões que trazem em seu bojo a concepção de natureza que predomina em nossa sociedade.
Clama-se de burro o aluno ou a pessoa que não entende o que se fala ou ensina; de cachorro ao mau caráter; de cavalo ao individuo mal educado; de vaca, piranha e veado aquele ou aquela que não faz a opção sexual que se considera correta, etc...
Juntemos os termos: burros, cachorro, cavalo, vaca, piranha e veado são nomes de animais, de seres da natureza tomados – em todos os casos – em sentido negativo, em oposição a comportamentos considerados cultos, civilizados e bons.
O antropólogo Levi Straus nos ensina que os romanos chamavam de bárbaros aos outros povos tidos por eles como não civilizados e que a palavra “bárbaro” significa canto desarticulado das aves.
Chama-se de selvagem aquele que se encontra no pólo oposto a cultura. E, note bem, selvagem quer dizer da selva, mais uma vez, do plano da natureza.
A natureza se define em nossa sociedade, por aquilo que se opõe a cultura. A cultura é tomada como algo superior e que conseguiu controlar e dominar a natureza. Daí se tornar a revolução neolítica, a agricultura, um marco da historia, posto que com ela o homem passasse da coleta daquilo que a natureza “naturalmente” dá, para a coleta daquilo que se planta que se cultiva.
Com a agricultura nos tornamos sedentários e não mais nômades. Primitivos são aqueles que vivem da caça, da pesca e da coleta de uma agricultura itinerante, posto que não consigam manter a fertilidade do solo, necessitando migrar periodicamente em busca de alimento.
Com a agricultura irrigada alguns povos se estabeleceram sobre um determinado território de maneira mais permanente, mais estável. A vida se torna menos inconstante, domestica-se a natureza e, assim, formam-se os berços das civilizações na Mesopotâmia, no Egito, na China, etc.
Dominar a natureza é dominar a inconstância, o imprevisível; são dominar o instinto, as pulsões, as paixões.
Tem-se como necessário o artifício das leis para que retomemos ao reino animal, tido como lugar dos instintos. O Estado, a lei e a ordem são tomadas como necessários para evitar o primado da natureza, onde reina o caos ou, no máximo, a “lei da selva”, onde todos lutam contra todos.
Basta um rápido olhar sobre os diversos Estados constituídos com suas leis e ordens para notarmos o quadro de fome, de guerras, de opressões e violências de todos os tipos que eles mesmos instituíram em nome da civilização para constatarmos a inconsistência desse tipo de abordagem.
Na verdade, encontramo-nos diante de um conceito de natureza que justifica a existência do Estado. Este é condição de “civilização” e “primitivos” são os povos que não tem Estado. Esta é uma das razões para que se chame de ingênuo ao ecologista que cita o indígena como modelo de relação entre o homem e a natureza.
Alem disso, a expressão dominar a natureza só tem sentido a partir da premissa de que o homem é não-natureza.... Mas se o homem é também natureza, como falar em dominar a natureza? Teríamos que falar em dominar o homem também... E aqui a contradição fica evidente. Afinal, quem domina o homem? Outro homem? Isso só seria concebível se aceitássemos a idéia de um homem superior, de uma raça superior, pura – e a História já demonstrou as conseqüências destas concepções.
A natureza é, em nossa sociedade, um objeto a ser dominado por um sujeito, o homem, muito embora saibamos que nem todos os homens são proprietários da natureza. Assim são alguns poucos homens que dela verdadeiramente se apropriam. A grande maioria dos outros homens não passa, ela também, de objeto que pode até ser descartado.
A visão tradicional da natureza-objeto versus homem-sujeito parece ignorar que a palavra sujeito comporta mais de um significado: ser sujeito é quase sempre ser ativo, ser dono do seu destino. Mas o termo indica também que podemos ser ou estar sujeitos – submetidos – a determinadas circunstancias e, nesta acepção, a palavra tem conotação negativa...
Eis ai o paradoxo do humanismo moderno: sua imperiosa necessidade de afirmar uma visão de mundo antropocêntrica, onde o homem é o rei de tudo, o faz esquecer o outro significado do termo “sujeito” – o sujeito pode ser o que age ou o que se submete. A ação tem a sua contrapartida na submissão.
Já vimos como em todo conceito de natureza se tecem no dia-a-dia as relações sociais. Talvez seja agora interessante localizar de onde brota essa visão de natureza entre nós.
Clama-se de burro o aluno ou a pessoa que não entende o que se fala ou ensina; de cachorro ao mau caráter; de cavalo ao individuo mal educado; de vaca, piranha e veado aquele ou aquela que não faz a opção sexual que se considera correta, etc...
Juntemos os termos: burros, cachorro, cavalo, vaca, piranha e veado são nomes de animais, de seres da natureza tomados – em todos os casos – em sentido negativo, em oposição a comportamentos considerados cultos, civilizados e bons.
O antropólogo Levi Straus nos ensina que os romanos chamavam de bárbaros aos outros povos tidos por eles como não civilizados e que a palavra “bárbaro” significa canto desarticulado das aves.
Chama-se de selvagem aquele que se encontra no pólo oposto a cultura. E, note bem, selvagem quer dizer da selva, mais uma vez, do plano da natureza.
A natureza se define em nossa sociedade, por aquilo que se opõe a cultura. A cultura é tomada como algo superior e que conseguiu controlar e dominar a natureza. Daí se tornar a revolução neolítica, a agricultura, um marco da historia, posto que com ela o homem passasse da coleta daquilo que a natureza “naturalmente” dá, para a coleta daquilo que se planta que se cultiva.
Com a agricultura nos tornamos sedentários e não mais nômades. Primitivos são aqueles que vivem da caça, da pesca e da coleta de uma agricultura itinerante, posto que não consigam manter a fertilidade do solo, necessitando migrar periodicamente em busca de alimento.
Com a agricultura irrigada alguns povos se estabeleceram sobre um determinado território de maneira mais permanente, mais estável. A vida se torna menos inconstante, domestica-se a natureza e, assim, formam-se os berços das civilizações na Mesopotâmia, no Egito, na China, etc.
Dominar a natureza é dominar a inconstância, o imprevisível; são dominar o instinto, as pulsões, as paixões.
Tem-se como necessário o artifício das leis para que retomemos ao reino animal, tido como lugar dos instintos. O Estado, a lei e a ordem são tomadas como necessários para evitar o primado da natureza, onde reina o caos ou, no máximo, a “lei da selva”, onde todos lutam contra todos.
Basta um rápido olhar sobre os diversos Estados constituídos com suas leis e ordens para notarmos o quadro de fome, de guerras, de opressões e violências de todos os tipos que eles mesmos instituíram em nome da civilização para constatarmos a inconsistência desse tipo de abordagem.
Na verdade, encontramo-nos diante de um conceito de natureza que justifica a existência do Estado. Este é condição de “civilização” e “primitivos” são os povos que não tem Estado. Esta é uma das razões para que se chame de ingênuo ao ecologista que cita o indígena como modelo de relação entre o homem e a natureza.
Alem disso, a expressão dominar a natureza só tem sentido a partir da premissa de que o homem é não-natureza.... Mas se o homem é também natureza, como falar em dominar a natureza? Teríamos que falar em dominar o homem também... E aqui a contradição fica evidente. Afinal, quem domina o homem? Outro homem? Isso só seria concebível se aceitássemos a idéia de um homem superior, de uma raça superior, pura – e a História já demonstrou as conseqüências destas concepções.
A natureza é, em nossa sociedade, um objeto a ser dominado por um sujeito, o homem, muito embora saibamos que nem todos os homens são proprietários da natureza. Assim são alguns poucos homens que dela verdadeiramente se apropriam. A grande maioria dos outros homens não passa, ela também, de objeto que pode até ser descartado.
A visão tradicional da natureza-objeto versus homem-sujeito parece ignorar que a palavra sujeito comporta mais de um significado: ser sujeito é quase sempre ser ativo, ser dono do seu destino. Mas o termo indica também que podemos ser ou estar sujeitos – submetidos – a determinadas circunstancias e, nesta acepção, a palavra tem conotação negativa...
Eis ai o paradoxo do humanismo moderno: sua imperiosa necessidade de afirmar uma visão de mundo antropocêntrica, onde o homem é o rei de tudo, o faz esquecer o outro significado do termo “sujeito” – o sujeito pode ser o que age ou o que se submete. A ação tem a sua contrapartida na submissão.
Já vimos como em todo conceito de natureza se tecem no dia-a-dia as relações sociais. Talvez seja agora interessante localizar de onde brota essa visão de natureza entre nós.
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