domingo, 3 de janeiro de 2010

ILHA GRANDE e ANGRA DOS REIS

Felipe Werneck, ILHA GRANDE e Alfredo Junqueira, ANGRA DOS REIS

Um dia após a tragédia provocada pelas chuvas que matou, pelo menos, 41 pessoas em deslizamentos de terra em Angra dos Reis, litoral sul do Rio, turistas tiveram de deixar a região de Ilha Grande, onde o desmoronamento de uma encosta destruiu uma pousada, quatro residências e três casas de veraneio. Na ilha já são 28 mortos; no centro de Angra, mais 13. Os números superam os óbitos registrados em dezembro de 2002, quando deslizamentos mataram 39 pessoas. A chuva também castigou outras regiões do Estado. Balanço da Defesa Civil contabilizava, às 19 horas de ontem, 63 mortes desde quarta-feira. No País, já são 76 (3 em MG e 10 em SP).

Mesmo com o dia ensolarado após o fim de ano chuvoso, dois saveiros partiram ontem de manhã da Enseada do Bananal, na Ilha Grande, com 120 turistas assustados que se dispuseram a deixar a área. Os poucos que permaneceram partiram à tarde, quando a Defesa Civil interditou o local. "O medo é que volte a chover forte e os turistas entrem em pânico", explicou o secretário de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Cortes. A interdição, que será mantida por 15 dias, período estimado para buscas, não agradou a todos. "Não tem lógica jogar a gente na rua", reclamava a dentista Silvana Bolsoni, de um grupo de oito pessoas de São Paulo.

No meio da tarde de ontem, um estalo e a ameaça de novo deslizamento suspenderam por cerca de uma hora as buscas no Morro da Carioca, onde um desmoronamento soterrou casas em Angra. Cercaem Ilha Grande e no Carioca, no continente, onde cinco corpos foram resgatados até ontem à tarde, elevando para 13 o número de mortes. De acordo com a Defesa Civil, 337 pessoas estão desabrigadas, 565 desalojadas e 189 casas foram interditadas.

O resgate foi dificultado pelo cenário de destruição e pelo cansaço dos agentes. O reconhecimento das vítimas começa a ser dificultado pelas condições dos corpos. Ontem de manhã, os bombeiros começaram a utilizar cães farejadores. Mais uma retroescavadeira chegou à ilha. Dois equipamentos retiram toneladas de terra e pedras que encobriram sete casas e parte da Pousada Sankay. de 120 bombeiros, agentes da Defesa Civil e voluntários trabalham

Com cerca de 500 metros de extensão, a enseada tem 278 habitantes. Os moradores de quatro casas, onde morreram 12 pessoas, eram da mesma família. Entre elas, estavam a mulher, as duas filhas e o genro de João Batista de Brito, único sobrevivente de uma casa. A família trabalhava para os empresários da indústria naval Willian e Gisela Mac Laren. Segundo parentes, o corpo de uma das filhas, Gabriela, de 12 anos, foi enviado por engano ao Instituto Médico-Legal (IML) do Rio. O de Angra está sobrecarregado.

Elizabeth de Brito, agente de saúde na ilha, perdeu uma irmã e um sobrinho e se queixou da dificuldade de reconhecer os corpos. "É um absurdo não deixarem eu ver o corpo do meu sobrinho." O menino foi reconhecido pelo marido Carlos Alberto Geraldo, presidente da associação de moradores. Ele contou que a filha de João Batista, Aline, de 22 anos, foi achada com vida, mas morreu antes do resgate. "Ela estava soterrada até as pernas, abraçada à mãe já morta. Antes de morrer, ela disse: "Tio, estou com medo, estou sentindo frio"."

VÍTIMAS

Em uma das casas de veraneio, havia 17 pessoas de um grupo de amigos da cidade paulista de Arujá. Pelo menos cinco corpos foram encontrados. Outras cinco pessoas estavam desaparecidas. Entre os mortos estão o casal Márcio e Cecília Baccin, que estava grávida de 6 meses. O filho deles, Giovane, de 3 anos, morreu. Também foram encontrados os corpos dos noivos Natália Pacheco e Ricardo Ferreira da Silva. Segundo moradores da região, a casa vizinha, que também foi soterrada, estava vazia. Os dois casais de turistas que a ocupavam teriam deixado o local antes da virada do ano incomodados com o barulho dos vizinhos.

Na terceira casa alugada, duas crianças morreram. Cláudia Repetto, de 42 anos, só foi informada ontem, por parentes, da morte das duas filhas, Gabriela, de 9 anos, e Geovana, de 12. Ela está internada na UTI do Hospital Copa D"Or, no Rio, sem risco de morte. Segundo boletim médico, ela sofreu fratura em três costelas e teve esmagamento nas duas pernas. O marido de Claudia, Marcelo Repetto Filho, sobreviveu e está internado no Hospital São Vicente. Ele está com as funções renais prejudicadas e os médicos não emitiram um parecer sobre a gravidade. Na mesma casa, morreram Renato Repetto e sua mulher, Ilza Maria Roland.

PRECARIEDADE

As chuvas provocaram transtornos em Ilha Grande, que teve o fornecimento de água e energia prejudicados, assim como o sistema de telefonia. Muitas pousadas funcionam com geradores. Houve deslizamentos na área, como na ilha particular do cirurgião plástico Ivo Pitanguy, onde estava hospedado Pierre Sarkozy, filho do presidente da França, Nicolas Sarkozy. A rodovia BR-101 tinha 24 pontos de queda de barreira entre Angra e Paraty.

COLABORARAM

ALEXANDRE RODRIGUES, MARCELO AULER e IRANY TEREZA


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