segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

SECA

Nº 9

Seca

O flagelo da seca há séculos assola o sertão nordestino, dificultando a vida de milhares de pessoas que residem na zona rural e nas periferias das cidades da região.
Constantemente ouvimos nos noticiários essas palavras, mas pouco se sabe sobre a seca do ponto de vista da Defesa Civil.

Afinal, o que é seca?

Em meteorologia, a seca é uma estiagem prolongada, caracterizada por provocar uma redução sustentada das reservas hídricas existentes.
O desastre seca é também um fenômeno social, caracterizando-se como uma crise de agravamento de uma situação endêmica de pauperismo e estagnação econômica, sob o impacto do fenômeno meteorológico adverso.

Para que se configure o desastre, é necessário que o fenômeno adverso, caracterizado pela ruptura do metabolismo hidrológico, atue sobre um sistema ecológico, econômico, social e cultural, vulnerável a redução das precipitações pluviométricas.
As secas que se instalam periodicamente na região nordeste do Brasil relacionam-se com múltiplos fatores condicionados pela geodinâmica terrestre global em seus aspectos climáticos e meteorológicos.

As chuvas do nordeste são influenciadas basicamente por:
- deslocamento em sentido norte-sul da zona de convergência intertropical sobre o Oceano Atlântico.
- deslocamento em sentido sul-norte de sistemas frontais, provocados por frentes frias originadas no Pólo Sul.
- deslocamento em sentido leste-oeste de frentes convectivas de origem continental / equatorial.
- ação dos alísios de sudeste, carregados de umidade, provocando chuvas de relevo em contato com as vertentes da Chapada Borborema.

Muitos desses fenômenos são influenciados pelas variações de temperatura das águas de superfície dos oceanos.
Está comprovado que o fenômeno El-Ninõ, guarda uma intima relação de causa e efeito com os períodos de secas intensas no semi-árido nordestino e com inundações catastróficas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

El-Ninõ – esse fenômeno caracteriza-se pelo incremento do aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacifico, junto as costa oeste do Equador e da Colômbia.
Essa elevação de temperatura provoca a formação de correntes ascendentes em direção à alta troposfera onde o ar é ressequido. Esse bolsão de alta pressão retorna a superfície do planeta no semi-árido nordestino, provocando uma célula de alta pressão nas camadas mais baixas da atmosfera.

Os principais efeitos adversos.

Os efeitos adversos da seca repercutem desfavoravelmente em todo território nacional. A seca não é um problema do nordeste, é um problema do Brasil.
Durante a seca ocorre uma crise de agravamento de uma situação de pauperismo endêmico e de estagnação econômica, reduzindo ainda mais os já baixíssimos índices de bem-estar social e de qualidade de vida da população local.

Nessas circunstancias, a economia local, que sobrevive basicamente de uma pecuária extensiva e de uma agricultura de subsistência, sem a menor capacidade de gerar reservas financeiras ou de estocar alimentos e outros insumos, é completamente bloqueada.
É importante recordar que o nordeste do Brasil é a região semi-árida de maior densidade populacional da terra. A população que, nas épocas de intercrise apenas sobrevive, perde a capacidade de gerar trabalho remunerado e, consequentemente, perde a capacidade de adquirir um mínimo de bens necessários à garantia de sua sobrevivência.

O mercado é afetado muito mais pela drástica redução da já deficiente capacidade aquisitiva do que pela redução da capacidade de produzir alimentos de subsistência e demais bens de consumo imediato.
A estagnação econômica repercute sobre as já precárias condições sociais, agravando ainda mais os índices de morbi-mortalidade infantil e dos estratos vulneráveis constituídos por idosos, enfermos e minusválidos.

A situação de desnutrição crônica da população sócio-econômica marginalizada evolui para uma crise de fome.
Cresce a morbi-mortalidade por infecções respiratórias agudas, carências nutricionais protéico-calóricas e por gastrenterites e desidratação.

A intranqüilidade social e o êxodo rural em busca de melhores condições de sobrevivência, são desastres secundários à grande crise.
As migrações descontroladas e a fixação de populações desenraizadas de seus ambientes culturais, em bolsões de pobreza de grandes cidades, geram novos e importantes desastres sociais.

Monitorização, Alerta e Alarme.

O acompanhamento das variações de temperatura das águas de superfície dos oceanos Pacifico, Atlântico e Indico e, em especial, a monitorização do fenômeno El-Ninõ, permitem uma razoável previsão sobre períodos de seca e de inundações no Brasil.

A monitorização dos níveis dos grandes açudes e dos índices de evaporação diária dos mesmos permite uma razoável previsão sobre a evolução das reservas hídricas.

Medidas Preventivas – PREVSAN – Programa de Redução das Vulnerabilidades à Seca no Semi-árido Nordestino.

Os objetivos – Reduzir as vulnerabilidades do nordeste à seca dando especial atenção às causas sociais, estagnação econômica, pauperismo, desemprego, marginalização social e econômica, fome, desnutrição, êxodo rural e migrações descontroladas.
Aperfeiçoar as potencialidades regionais reduzindo as desigualdades, promover o desenvolvimento do Nordeste, incrementar o bem-estar social e a qualidade de vida.
A implementação de uma mudança cultural e comportamental da sociedade, objetivando o desenvolvimento comunitário e a efetiva participação de comunidades bem informadas no trabalho de reconstrução.

Promoção de pequenas empresas e de indústrias artesanais que não dependam das condições climáticas.
Pleno aproveitamento do potencial hídrico armazenado no nordeste, por intermédio de projetos de irrigação que utilizem racionalmente os recursos hídricos já reservados.
Viabilização da oferta permanente da água potável para uso humano e animal, através de planejamento integrado de sistemas micro regionalizados de captação, tratamento e adução de recursos hídricos.

Conclusão e recuperação de pequenas obras hídricas, como cisternas, poços e pequenos açudes.
Perenização dos rios temporários ou intermitentes por intermédio de projetos de regularização espacial de deflúvios das bacias.
Implementação de pólos secundários e terciários de desenvolvimento, com o objetivo de fortalecimento de agroindústrias.
Cooperativismo, educação técnica com a formação de técnicos agrícolas, técnicos em economia domestica, técnicos em irrigação e outros necessários e especializados em regiões semi-áridas.

Um dos fatores fundamentais é a atividade de pesquisa, capacitação, extensão e assistência técnica.
Promover zoneamento agro-ecológico buscando desenvolvimento em harmonia com a natureza, utilizando meios de conservação do solo e preservação ambiental.
Fortalecimento de uma agropecuária adaptada às condições peculiares do semi-árido.
Fortalecimento das atividades florestais e de silvicultura evitando o risco de desertificação.

Basicamente, a educação é o fator mais importante para se atingir o conhecimento e trabalhar para minimizar os problemas oriundos da seca.
Uma população bem esclarecida e participativa envolvida no planejamento e nas soluções de suas realidades vai conseguir controlar as adversidades, principalmente, aquelas que por motivos alheios, não se interessam na solução desejados por todos nós brasileiros.

Roger Clark – PP5RO
SEDEC / RENER
DEFESA CIVIL BRASIL

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